- Venha Tyller, estamos bem próximos agora. Tenho certeza
que poderemos nos abrigar em Arefu, é uma cidade muito amigável.
- Espero que esteja certa. Preciso mesmo descansar um pouco
Michelle. Eu nunca havia caminhado tanto
em toda minha vida. Tem certeza que lá é um lugar seguro?
- Lembro-me de alguns relatos sobre o velho protetor de
Arefu, se não me engano seu nome é Evan King. Embora a idade não se deixe levar
pelas aparências. Ele é reconhecido por ser bem casca grossa. Mas não se
preocupe ele costuma ser bem receptível com viajantes amigáveis. Ele nos
oferecerá um lugar pra ficar na cidade em troca de algumas tampinhas.
Fico imaginando como as pessoas conseguem sobreviver tanto
tempo dentro de um mundo tão severo e injusto. Não há água, não há comida,
apenas a incerteza que assombra nossos olhares focados nesse horizonte de areia. Mas apesar disso tudo, ainda sim há bondade
em algumas pessoas, mas gente assim é bem rara.
Enquanto subimos esse viaduto ou o que sobrou dele, vejo
casas improvisadas caindo aos pedaços e muitos de carros destruídos. Logo será
dia novamente, e fico pensando o que Taylor e os outros estão fazendo, e
desejando novamente que eles e os moradores do Vault estejam todos bem.
- Ei, espere!!! Abaixe-se Tyller !!!
Rapidamente Michelle puxa para trás do que sobrou de ônibus
escolar destruído, fazendo sinal de silêncio com seu indicador próximo a boca. Depois
do que aconteceu na mesma madrugada, fico totalmente alerta imaginando o que
poderia ser. E se fosse mais um
DeathClaw. Digo pra mim mesmo, quase que sussurrando:
- Por favor, não... Que não seja outro monstro.
- Fique atento Tyller. Parece que houve algo de muito ruim
em Arefu. Droga! Não estamos seguros nesse lugar, precisamos sair daqui.
Lentamente fui até a extremidade do ônibus logo ao lado de
Michelle para tentar entender o que estava acontecendo. Pude perceber que havia
uma jaula no meio da ponte com algumas pessoas dentro. Haviam grandes sacos
pendurados por todo o local e algumas pessoas mortas pelo chão.
- O que está acontecendo aqui Michelle? Será que a cidade
fora atacadas por riders ?
- Infelizmente não Tyller.
- Infelizmente?
- Infelizmente porque foram atacados por algo bem pior. Com
certeza há super-mutantes nessa cidade. Riders são bem mais fáceis de matar do
que essa maldita praga que infesta Wastelands.
- Como podemos salvar essas pessoas presas?
- Não podemos Tyller, vamos dar meia volta em silêncio e
contornar este lugar. Não vamos arriscar. É melhor procurar algum outro lugar para
descansarmos. Veja, no telhado da casa ao fundo, há um mutante vigiando o
local. Os outros mutantes provavelmente estão dormindo dentro das casas.
Pude sentir uma grande firmeza em sua voz quando Michelle me
disse essas palavras. Eu sabia que havia
uma missão maior para resolver, mas não consegui ficar a vontade com isso. E se
fossemos nós que estivéssemos nessa situação, presos? Tudo que poderíamos fazer é
simplesmente esperar a morte?
- Michelle? ... Não podemos!
- Podemos Tyller. Eu
duvido muito que se fosse ao contrário, essas pessoas arriscariam suas vidas
para salvar alguns estranhos. Não se esqueça de que temos problemas maiores
para resolver. Nossas verdadeiras famílias dentro do Vault precisam de nós
agora. Se morrermos aqui, podemos colocar tudo a perder. Taylor e os outros
precisam de nós, não se esqueça disso.
- Eu entendo, mas fico imaginando se fôssemos nós nesta
situação? Com a morte certa tão perto.
- Infelizmente a crueldade habita a toda Wasteland. Sempre
haverá alguém precisando de ajuda. Ainda que fossem caçadores da noite, não
pensaria duas vezes em deixar minha vida aqui se necessário, mas não é o caso.
Nem sabemos se essas pessoas presas são boas ou más. Você acha que vale a pena
arriscar nossa missão por eles? Talvez até mereçam o destino cruel que os
aguardam.
- Entendo. Espero que você esteja certa sobre isso.
Quanto mais Michelle me bombardeava com suas duras palavras repletas
de realidade, mais eu ficava incerto se realmente devíamos tentar salvar
aquelas pessoas. Tentar significa a possibilidade de não conseguir, e neste
caso, não conseguir significava morrer. Realmente não sei se estás pessoas são
boas ou ruins... Mas será que deixa-los aqui a própria sorte é mesmo a melhor
coisa a se fazer?
- Sinto muito por eles, mas não faremos nada. Fora que os
mutantes são realmente muito fortes e sádicos. Eles podem manter seus
prisioneiros vivos por vários dias, comendo seus membros um a um aos poucos. Cortando
um braço e cauterizando o ferimento com algo bem quente para conter o
sangramento. Mantendo você vivo para que a “comida” dure mais tempo e esteja sempre
fresca. Eles se alimentam principalmente de seres humanos, mas a verdade é que
eles comem qualquer coisa.
Escutei muito a respeito dos mutantes e sobre a tentativa de
erradicação deles pela irmandade de aço ao longo dos anos. Está é uma praga bem
resistente e perigosa. Grandes e fortes, vestidos com alguma armadura feita de
restos de carros e metais encontrados pela Wasteland, possuem uma coloração esverdeada,
sempre estão armados e como Michelle mesma falou, se alimentam de qualquer coisa viva.
- Vamos calmamente pelas sombras e descer este viaduto sem
ser percebido. Bem devagar, para não chamar a atenção.
Enquanto descia eu ainda pensava naquelas pessoas que
estavam presas lá. Por um momento fiquei imaginando se minha mãe poderia ter
tido o mesmo destino deles. Esperando apenas para ser cortada e servindo de
alimento para esses desgraçados.
- Espere Tyller !!! Parece que há uma pequena patrulha de
mutantes voltando!! Se esconda debaixo de algum carro.
Meus olhos se arregalaram na mesma hora e meu coração
disparou em um tenso nervosismo. Rapidamente nos escondemos cada um debaixo de
um carro diferente. Ficamos olhando um para o outro esperando que a patrulha
passasse por nós sem que nos percebessem. Provavelmente esses comedores de
carne saíram a noite para caçar suas presas pelo deserto.
Em poucos instantes começamos a ouvir seus passos e vozes se
aproximando. Cada vez mais perto. Cada segundo me deixava mais aflito e atento
com aquela situação. Eram apenas cinco mutantes, mas com certeza haviam muitos
outros na cidade. Se apenas um deles nos vissem agora estaria tudo perdido.
Lentamente um a um começaram a passar por nós, e escutamos suas
vozes resmungarem sobre estarem com fome, parece que a caçada desta noite foi
um fracasso. Estes segundos duram uma eternidade e meu coração está prestes a
sair pela boca. Sinto um suor frio descer pela minha espinha e só quero que
tudo acabe logo.
Assim que chegaram à cidade, um deles caminha em direção à
jaula e já espero o pior. O que está por vir certamente será algo muito ruim. Os
prisioneiros começam a dizer repetidamente:
- Não!!! Não!!!
- Por favor, não!
Mas claro que as palavras são inúteis. O mutante abre a
jaula, segura firmemente um dos prisioneiros pelo braço e em seguida o joga pra fora da
jaula com muita brutalidade. Os outros prisioneiros que desesperados tentam fugir
de alguma forma, são inibidos pelos gritos e golpes do brutamonte que novamente tranca sua jaula.
Caída alguns metros da jaula, vejo que o prisioneiro é na
verdade uma mulher. Ainda atordoada com a força que foi jogada no chão, com
muita dificuldade consegue se levantar e mesmo mancando parte em uma tentativa
inútil de fuga. Outros mutantes a cercam. Não há nada a se fazer. Os
prisioneiros gritam e choram enquanto batem nas grades da jaula pedindo
clemencia.
A mulher, ao se ver sem saída, encurralada pelos mutantes
que vão em sua direção de forma agressiva. Olha para seus amigos na jaula e
corre para uma das extremidades do viaduto. Em um rápido movimento ela se atira
em um salto para a morte.
Acho que tudo o que ela mais queria era fugir desse pesadelo.
O medo que habitava em mim dá lugar para uma angústia tremenda. Olho para a
Michelle e fecho os olhos por alguns segundos. Talvez esperando acordar também,
desejando que isso tudo seja apenas um sonho.
O destino daquela pobre mulher, invejado pelos que ainda
estão vivos dentro daquela prisão de desespero.
Em seguida os mutantes ficam furiosos com toda aquela situação e
começam a discutir e brigar entre si, decidindo quem irá recolher o cadáver que repousa no solo.
Está é a deixa que precisamos, Michelle sinaliza para
sairmos dali e continuarmos nossa missão até Citadel. Precisamos encontrar
outro lugar para descansarmos um pouco e logo irá amanhecer.
Enquanto lentamente descemos o viaduto, nos esgueirando
entre os carros e as sombras para não sermos vistos, a cena vista não para de
passar em minha cabeça. Não acho que aquelas eram más pessoas, mas o que
poderia fazer contra uma frota de mutantes.
Ao chegarmos novamente no solo arenoso, no início do
viaduto, Michelle começa vasculhar sua mochila procurando alguma coisa.
- O que houve Michelle?
- Não temos como salvar essas pessoas, mas os mutantes
realmente são uma ameaça para qualquer um. Eu vou colocar algumas minas de
fragmentos aqui e torcer para que matem quantos possíveis desses malditos. Droga !!!
tenho apenas 3 minas. As outras foram usadas para matar o DeathClaw. Você tem
alguma com você Tyller ?
- Tenho apenas duas minas. Tome aqui, Pegue-as.
- Se tudo der certo, quando chegarmos à irmandade, vamos informa-los
sobre esse local. Com certeza eles mandarão uma patrulha para limpar a cidade.
Sinceramente não sei se Michelle me disse isso apenas para
que eu me sinta melhor em relação àquelas pessoas que deixamos a própria sorte.
Mas talvez a irmandade realmente se importe. Espero que sim.
******* Próximo ao Vault 121 *************
- Muito bem Kin e Vicent !! Agora que estão vestidos com as
armaduras da Enclave podemos nos infiltrar no Vault. Enquanto estava utilizando
o Steath boy para me aproximar, consegui descobrir que todos estão sendo
mantidos prisioneiros em seus quartos. Parece que realmente estão fazendo
alguma experiência lá dentro para criar super soldados com uma droga desenvolvida
pela própria Enclave.
- Maldição !! Que tipo de droga será essa ?
- Eu não sei Vicent, mas seja lá o que for, suspeito você
esteja sofrendo dos efeitos colaterais dela. Os radaways tem baixado seu nível
de radioatividade temporariamente, e isso é muito incomum.
- É por isso que você está assim Vicent, passando mal desse
jeito!! Precisamos entrar lá e procurar algum antídoto.
- Agora tudo faz sentido. Na fabrica RobCo quando você foi atacada
pelo rato toupeira... O meu tempo de reação e força foram além da normalidade.
Eu percebi que tinha algo de diferente em mim. Talvez essa droga aguce os sentidos
dos seus usuários.
- Eu também achei incomum, mas naquele momento nunca
imaginaria que era algo relacionado ao nosso lar.
- Caçadores. Precisamos encontrar uma forma de entrar.
Nossos amigos estão lá precisando da nossa ajuda. Não podemos deixa-los lá como
ratos de laboratório prontos para serem dissecados.
- O que faremos, senhor ?
- Tyller e Michelle vão demorar alguns dias para voltar.
Fora que nem sabemos se a Irmandade de Aço vai mesmo nos ajudar. O que me
conforta é que a Enclave é um inimigo em comum. O inimigo do meu amigo é meu
inimigo também.
- E se acontecer alguma coisa com a gente, enquanto
adentramos aquele lugar?
- Poderemos apenas torcer para que Tyller e Michelle tenham
sucesso em sua investida. Mas não podemos ficar parados aqui sem fazer nada. Se
morrermos, que seja tentando salvar os nossos amigos.
- Positivo senhor. E como vamos fazer isso? Como entraremos
?
- Eu acho que tive uma ideia...
- Senhor, capturamos esse habitante do Vault, em nossa
patrulha. Seu nome é Taylor. O que devemos fazer com ele?
- Levem-no para dentro soldado!!! Verifique a localização de seu
quarto dentro desse buraco, e prenda esse verme como os outros.
- Sim Senhor !!!
- Sim Senhor !!!
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