Capítulo 6 - Apenas um Pesadelo.


- Venha Tyller, estamos bem próximos agora. Tenho certeza que poderemos nos abrigar em Arefu, é uma cidade muito amigável.

- Espero que esteja certa. Preciso mesmo descansar um pouco Michelle.  Eu nunca havia caminhado tanto em toda minha vida. Tem certeza que lá é um lugar seguro?

- Lembro-me de alguns relatos sobre o velho protetor de Arefu, se não me engano seu nome é Evan King. Embora a idade não se deixe levar pelas aparências. Ele é reconhecido por ser bem casca grossa. Mas não se preocupe ele costuma ser bem receptível com viajantes amigáveis. Ele nos oferecerá um lugar pra ficar na cidade em troca de algumas tampinhas.




Fico imaginando como as pessoas conseguem sobreviver tanto tempo dentro de um mundo tão severo e injusto. Não há água, não há comida, apenas a incerteza que assombra nossos olhares focados nesse horizonte de areia.  Mas apesar disso tudo, ainda sim há bondade em algumas  pessoas, mas gente assim é bem rara.

Enquanto subimos esse viaduto ou o que sobrou dele, vejo casas improvisadas caindo aos pedaços e muitos de carros destruídos. Logo será dia novamente, e fico pensando o que Taylor e os outros estão fazendo, e desejando novamente que eles e os moradores do Vault estejam todos bem.

- Ei, espere!!! Abaixe-se Tyller !!!

Rapidamente Michelle puxa para trás do que sobrou de ônibus escolar destruído, fazendo sinal de silêncio com seu indicador próximo a boca. Depois do que aconteceu na mesma madrugada, fico totalmente alerta imaginando o que poderia ser.  E se fosse mais um DeathClaw. Digo pra mim mesmo, quase que sussurrando:

- Por favor, não... Que não seja outro monstro.

- Fique atento Tyller. Parece que houve algo de muito ruim em Arefu. Droga! Não estamos seguros nesse lugar, precisamos sair daqui.

Lentamente fui até a extremidade do ônibus logo ao lado de Michelle para tentar entender o que estava acontecendo. Pude perceber que havia uma jaula no meio da ponte com algumas pessoas dentro. Haviam grandes sacos pendurados por todo o local e algumas pessoas mortas pelo chão.

- O que está acontecendo aqui Michelle? Será que a cidade fora atacadas por riders ?

- Infelizmente não Tyller.

- Infelizmente?

- Infelizmente porque foram atacados por algo bem pior. Com certeza há super-mutantes nessa cidade. Riders são bem mais fáceis de matar do que essa maldita praga que infesta Wastelands.

- Como podemos salvar essas pessoas presas?

- Não podemos Tyller, vamos dar meia volta em silêncio e contornar este lugar. Não vamos arriscar. É melhor procurar algum outro lugar para descansarmos. Veja, no telhado da casa ao fundo, há um mutante vigiando o local. Os outros mutantes provavelmente estão dormindo dentro das casas.




Pude sentir uma grande firmeza em sua voz quando Michelle me disse essas palavras.  Eu sabia que havia uma missão maior para resolver, mas não consegui ficar a vontade com isso. E se fossemos nós que estivéssemos nessa situação, presos? Tudo que poderíamos fazer é simplesmente esperar a morte?

- Michelle? ... Não podemos!

- Podemos Tyller.  Eu duvido muito que se fosse ao contrário, essas pessoas arriscariam suas vidas para salvar alguns estranhos. Não se esqueça de que temos problemas maiores para resolver. Nossas verdadeiras famílias dentro do Vault precisam de nós agora. Se morrermos aqui, podemos colocar tudo a perder. Taylor e os outros precisam de nós, não se esqueça disso.

- Eu entendo, mas fico imaginando se fôssemos nós nesta situação? Com a morte certa tão perto.

- Infelizmente a crueldade habita a toda Wasteland. Sempre haverá alguém precisando de ajuda. Ainda que fossem caçadores da noite, não pensaria duas vezes em deixar minha vida aqui se necessário, mas não é o caso. Nem sabemos se essas pessoas presas são boas ou más. Você acha que vale a pena arriscar nossa missão por eles? Talvez até mereçam o destino cruel que os aguardam.

- Entendo. Espero que você esteja certa sobre isso.

Quanto mais Michelle me bombardeava com suas duras palavras repletas de realidade, mais eu ficava incerto se realmente devíamos tentar salvar aquelas pessoas. Tentar significa a possibilidade de não conseguir, e neste caso, não conseguir significava morrer. Realmente não sei se estás pessoas são boas ou ruins... Mas será que deixa-los aqui a própria sorte é mesmo a melhor coisa a se fazer?

- Sinto muito por eles, mas não faremos nada. Fora que os mutantes são realmente muito fortes e sádicos. Eles podem manter seus prisioneiros vivos por vários dias, comendo seus membros um a um aos poucos. Cortando um braço e cauterizando o ferimento com algo bem quente para conter o sangramento. Mantendo você vivo para que a “comida” dure mais tempo e esteja sempre fresca. Eles se alimentam principalmente de seres humanos, mas a verdade é que eles comem qualquer coisa.

Escutei muito a respeito dos mutantes e sobre a tentativa de erradicação deles pela irmandade de aço ao longo dos anos. Está é uma praga bem resistente e perigosa. Grandes e fortes, vestidos com alguma armadura feita de restos de carros e metais encontrados pela Wasteland, possuem uma coloração esverdeada, sempre estão armados e como Michelle mesma falou, se alimentam de qualquer coisa viva.




- Vamos calmamente pelas sombras e descer este viaduto sem ser percebido. Bem devagar, para não chamar a atenção.

Enquanto descia eu ainda pensava naquelas pessoas que estavam presas lá. Por um momento fiquei imaginando se minha mãe poderia ter tido o mesmo destino deles. Esperando apenas para ser cortada e servindo de alimento para esses desgraçados.

- Espere Tyller !!! Parece que há uma pequena patrulha de mutantes voltando!! Se esconda debaixo de algum carro.

Meus olhos se arregalaram na mesma hora e meu coração disparou em um tenso nervosismo. Rapidamente nos escondemos cada um debaixo de um carro diferente. Ficamos olhando um para o outro esperando que a patrulha passasse por nós sem que nos percebessem. Provavelmente esses comedores de carne saíram a noite para caçar suas presas pelo deserto.

Em poucos instantes começamos a ouvir seus passos e vozes se aproximando. Cada vez mais perto. Cada segundo me deixava mais aflito e atento com aquela situação. Eram apenas cinco mutantes, mas com certeza haviam muitos outros na cidade. Se apenas um deles nos vissem agora estaria tudo perdido.

Lentamente um a um começaram a passar por nós, e escutamos suas vozes resmungarem sobre estarem com fome, parece que a caçada desta noite foi um fracasso. Estes segundos duram uma eternidade e meu coração está prestes a sair pela boca. Sinto um suor frio descer pela minha espinha e só quero que tudo acabe logo.

Assim que chegaram à cidade, um deles caminha em direção à jaula e já espero o pior. O que está por vir certamente será algo muito ruim. Os prisioneiros começam a dizer repetidamente:

- Não!!! Não!!!

- Por favor, não!

- Nos deixem em paz seu monstro !!!




Mas claro que as palavras são inúteis. O mutante abre a jaula, segura firmemente um dos prisioneiros pelo braço e em seguida o joga pra fora da jaula com muita brutalidade. Os outros prisioneiros que desesperados tentam fugir de alguma forma, são inibidos pelos gritos e golpes do brutamonte que novamente tranca sua jaula.

Caída alguns metros da jaula, vejo que o prisioneiro é na verdade uma mulher. Ainda atordoada com a força que foi jogada no chão, com muita dificuldade consegue se levantar e mesmo mancando parte em uma tentativa inútil de fuga. Outros mutantes a cercam. Não há nada a se fazer. Os prisioneiros gritam e choram enquanto batem nas grades da jaula pedindo clemencia.

A mulher, ao se ver sem saída, encurralada pelos mutantes que vão em sua direção de forma agressiva. Olha para seus amigos na jaula e corre para uma das extremidades do viaduto. Em um rápido movimento ela se atira em um salto para a morte.

Acho que tudo o que ela mais queria era fugir desse pesadelo. O medo que habitava em mim dá lugar para uma angústia tremenda. Olho para a Michelle e fecho os olhos por alguns segundos. Talvez esperando acordar também, desejando que isso tudo seja apenas um sonho.

O destino daquela pobre mulher, invejado pelos que ainda estão vivos dentro daquela prisão de desespero.

Em seguida os mutantes ficam furiosos com toda aquela situação e começam a discutir e brigar entre si, decidindo quem irá recolher o cadáver que repousa no solo. 

Está é a deixa que precisamos, Michelle sinaliza para sairmos dali e continuarmos nossa missão até Citadel. Precisamos encontrar outro lugar para descansarmos um pouco e logo irá amanhecer.

Enquanto lentamente descemos o viaduto, nos esgueirando entre os carros e as sombras para não sermos vistos, a cena vista não para de passar em minha cabeça. Não acho que aquelas eram más pessoas, mas o que poderia fazer contra uma frota de mutantes.
Ao chegarmos novamente no solo arenoso, no início do viaduto, Michelle começa vasculhar sua mochila procurando alguma coisa.

- O que houve Michelle?

- Não temos como salvar essas pessoas, mas os mutantes realmente são uma ameaça para qualquer um. Eu vou colocar algumas minas de fragmentos aqui e torcer para que matem quantos possíveis desses malditos. Droga !!! tenho apenas 3 minas. As outras foram usadas para matar o DeathClaw. Você tem alguma com você Tyller ?

- Tenho apenas duas minas. Tome aqui, Pegue-as.

- Se tudo der certo, quando chegarmos à irmandade, vamos informa-los sobre esse local. Com certeza eles mandarão uma patrulha para limpar a cidade.

Sinceramente não sei se Michelle me disse isso apenas para que eu me sinta melhor em relação àquelas pessoas que deixamos a própria sorte. Mas talvez a irmandade realmente se importe. Espero que sim.

******* Próximo ao Vault 121 *************

- Muito bem Kin e Vicent !! Agora que estão vestidos com as armaduras da Enclave podemos nos infiltrar no Vault. Enquanto estava utilizando o Steath boy para me aproximar, consegui descobrir que todos estão sendo mantidos prisioneiros em seus quartos. Parece que realmente estão fazendo alguma experiência lá dentro para criar super soldados com uma droga desenvolvida pela própria Enclave.

- Maldição !! Que tipo de droga será essa ?

- Eu não sei Vicent, mas seja lá o que for, suspeito você esteja sofrendo dos efeitos colaterais dela. Os radaways tem baixado seu nível de radioatividade temporariamente, e isso é muito incomum.



- É por isso que você está assim Vicent, passando mal desse jeito!! Precisamos entrar lá e procurar algum antídoto.

- Agora tudo faz sentido. Na fabrica RobCo quando você foi atacada pelo rato toupeira... O meu tempo de reação e força foram além da normalidade. Eu percebi que tinha algo de diferente em mim. Talvez essa droga aguce os sentidos dos seus usuários.

- Eu também achei incomum, mas naquele momento nunca imaginaria que era algo relacionado ao nosso lar.

- Caçadores. Precisamos encontrar uma forma de entrar. Nossos amigos estão lá precisando da nossa ajuda. Não podemos deixa-los lá como ratos de laboratório prontos para serem dissecados.

- O que faremos, senhor ?

- Tyller e Michelle vão demorar alguns dias para voltar. Fora que nem sabemos se a Irmandade de Aço vai mesmo nos ajudar. O que me conforta é que a Enclave é um inimigo em comum. O inimigo do meu amigo é meu inimigo também.

- E se acontecer alguma coisa com a gente, enquanto adentramos aquele lugar?

- Poderemos apenas torcer para que Tyller e Michelle tenham sucesso em sua investida. Mas não podemos ficar parados aqui sem fazer nada. Se morrermos, que seja tentando salvar os nossos amigos.

- Positivo senhor. E como vamos fazer isso? Como entraremos ?

- Eu acho que tive uma ideia...


******* 10 minutos depois em frente à entrada do Vault 121 ******





- Senhor, capturamos esse habitante do Vault, em nossa patrulha. Seu nome é Taylor. O que devemos fazer com ele?

- Levem-no para dentro soldado!!! Verifique a localização de seu quarto dentro desse buraco, e prenda esse verme como os outros.

- Sim Senhor !!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário